Um Artista Oitentista!

“Por um mundo melhor” pode ter sido a frase que marcou os anos 80, pelo menos no Brasil. Enquanto surgiam as primeiras rachaduras na Cortina de Ferro do Leste europeu, um festival de música colocou definitivamente o nosso país na rota do show business mundial.

1985 foi um ano de otimismo em várias áreas da sociedade tupiniquim! A esperança parecia realmente vir das antenas de TV, ao contrário do que pregava a banda Os Paralamas do Sucesso em Alagados, hit consagrado durante o primeiro Rock in Rio.

Eu, com os meus 5 anos de idade, vivia com meus pais em uma tradicional casinha de madeira no Oeste do Paraná. Era uma pequena vila de ruas de terra habitada por simples sitiantes que já sonhavam com as novidades da cidade grande trazidas pelo canal do Homem do Baú e da rede do Plim Plim.

Sim, eram duas as únicas emissoras que chegavam por aquelas bandas. Os poucos proprietários das caixas mágicas convidavam os vizinhos para acompanhar as novelas, enquanto que, no bar do ponto de ônibus,  escutava-se os palavrões e gritos de gol em frente à telinha ainda em preto e branco.

Não demorou muito para adquirirmos a tão cobiçada televisão a cores. “Olha o verde do Hulk!”, “Os Smurfs são azuis mesmo!” Para os meus pais, o carnaval carioca era uma atração à parte e, naquela mesma Mitsubishi, tivemos a grata surpresa de assistir ao meu tio tentar a sorte no Namoro na TV.

Mas, por que estou expondo um pouco de minha infância? Até onde sei, não temos artistas na família. Talvez durante o período paleolítico de Pindorama, algum “Calhaupithecus” tenha concebido suas primeiras obras, entre uma caça e outra. E, somente após muitos séculos, é que a veia artística de um pequeno garoto do interior paranaense foi despertada por um invento introduzido nos lares brasileiros pelo grande Chatô, no início da década de 50.

Muitos de meus amigos contam, até hoje, sobre o que faziam enquanto assistiam Walt Disney, Hanna Barbera e os empolgantes seriados japoneses da época. Uns transformavam toalhas em capas de super heróis e vestiam suas cuecas por cima das calças, outros davam piruetas no quintal, fingindo ser Jaspio, e pequenas princesas desfilavam pela casa,  adornadas com brincos, sapatos e roupas de suas mães.

 

Eu desenhava. 

No final do colegial, mesmo não tendo um caminho das pedras definido para conseguir chegar aos estúdios do Maurício de Souza, ou até me tornar um próximo Daniel Azulay, encontrei, no curso de desenho industrial, um vislumbre das ferramentas e possibilidades de trabalho.

De lá pra cá, outros Rock in Rios aconteceram, mas será que o mundo melhorou, conforme prometia o slogan? Tecnologicamente não preciso dizer, basta olhar à sua volta.

A vida nas cidades se tornou um pouco mais confortável, os carros ficaram mais modernos, porém ainda permanecem no chão, contrariando os anseios de quem assistia aos Jetsons

A telinha dominante passou a ser a do computador, e hoje temos as redes sociais na palma da mão, quebrando o monopólio da informação e do entretenimento dos antigos canais.

Mesmo com todo este progresso, parece que não conseguimos o suficiente para tornar a vida mais feliz neste vale de lágrimas. Ainda sofremos com os mesmos problemas e criamos outros, na tentativa de melhorar. As utopias falharam miseravelmente, porém ainda existem muitos de nós sonhando com o paraíso na terra.

“E aquele garoto que ia mudar o mundo…” Assim cantava Cazuza.

Posso dizer que a arte me mudou e, de certo modo, melhorou o meu jeito de enxergar o mundo.

@calhau.art
calhauart@gmail.com

Artmosphera: “Jornalismo investigativo, artístico e independente, precisa de seu apoio.
Divulgue, compartilhe e assine nossa Newsletter gratuita”

Deixe seu Comentário

Exit mobile version