Alberto Cidraes
Nos últimos dias tem surgido em Cunha, a polêmica, se os novos agentes e formas de cultura, intencionalmente ou não, têm apagado ou prejudicado os costumes e manifestações culturais mais antigos e tradicionais.
É legítimo afirmar que isso aconteceu na colonização desenfreada das culturas e povos originários, por povos de origem lusa ou europeia, desde 1500. No entanto, apesar do inaudito sofrimento envolvido, o Brasil se transformou ao longo do tempo, num cadinho de culturas cuja miscigenação só nos enriquece e fortalece nossa identidade como Nação.
Cunha passou por esse processo. Apagou a cultura originária local e criou formas de Arte Popular de origem Europeia e Africana. As manifestações culturais do povo que se tornou nativo, merecem ser continuadas através de gerações e protegidas pelo total da sociedade e poder público.
Desde há meio século tive o privilégio de participar de um movimento de expansão da Cerâmica artesanal e artística em Cunha.

O grupo que formamos em Cunha desde 1975, sempre teve duas preocupações sociais, uma a introdução no lugar de trabalho, de jovens aprendizes locais, hoje Mestres em grandes ateliers.
A outra foi o reconhecimento e valorização das últimas paneleiras, Dona Dita Olímpia protagonizando um dos poucos monumentos de Cunha em frente à Casa do Artesão e também a identificação do tijolo artesanal como parte da herança cerâmica de Cunha, infelizmente, esse sim quase apagado por uma fiscalização mais burocrática que pedagógica.
Um dos mais potentes atrativos para o forasteiro é exatamente a cultura caipira que Cunha preserva. Posso falar de Cerâmica por ser a área em que mais tenho atuado neste meio século, mas não me parece justa a afirmação de que quem vem de fora de alguma forma pretende destruir a cultura local.
Tudo é cultura na sociedade humana, agricultura, arquitetura, literatura, infraestrutura, religião. A folclorização da palavra cultura, a separa da vida humana e deita a perder seu universalismo. Ainda na cerâmica o ICCC formou desde 2010 várias turmas de jovens do ensino médio público em cursos anuais ou bi-anuais, que hoje já são ceramistas. Independentes. Desenvolveu também o projeto Várzea do Tanque como continuidade da forma de fazer cerâmica das saudosas Paneleiras.
@albertocidraes
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1 comentário
Sempre muito bom ter as histórias desse grande artista e amigo. Parabéns Alberto Cidraes pela bela trajetória de vida com suas artes.