Rolf Müller
Toda vez que se embarca num landcruiser, é como se fosse a primeira vez. A gente nunca sabe o que se vai encontrar.
Às vezes, é possível ver vários predadores logo de cara, e, de tempos em tempos, pode-se passar o dia inteiro sem ver nenhuma situação inusitada. Esse é o charme do gamedrive.
Muitas pessoas têm a ilusão de que a natureza funciona como o Discovery Channel, e os animais estão esperando algum carro passar, para fazer exatamente aquilo que os turistas esperam.
Quando um leão está alimentado, ele por vezes fica o dia todo dormindo, só se levantando para ir à sombra.
Chega a ser cômico quando se observa a impaciência de alguns turistas. Alguns batem palmas, outros assoviam, para tentar acordar os leões que estão dormindo.
Com passar do tempo, você ganha uma certa experiência, que ajuda a descobrir predadores. Alguns macacos e pássaros emitem sons de alerta.
Quando todas girafas ou antílopes olham na mesma direção, certamente há um leão por perto.
Para conseguir boas fotos, curtir a natureza, portanto, é preciso ter paciência. Já fiquei horas esperando para conseguir a foto desejada.
Em outras vezes, tentar prever o que o animal vai fazer. Eu lembro um dia, no Kalahari, vimos 6 leões machos indo na mesma direção, e tudo indicava que iriam beber água que havia ali perto.
Fomos até lá, e esperamos. Consegui pegar fotos de 6 leões bebendo água simultaneamente. Uma mistura de sorte e competência.
Nessa última viagem, tive a benção de ter um guia espetacular, que me fez aprender um monte de coisas novas. Aprendi que os animais mais importantes para o Delta de Okavango são os hipopótamos, os elefantes e os cupins.
Os hipopótamos não nadam, eles andam no leito do rio, e, assim, frequentemente, ajudam na desobstrução dos rios. Os elefantes andam por grandes distâncias. Como comem quase 200 quilos de plantas por dia, são importantes para espalhar as sementes.
Os rola-bostas colocam seus ovos no esterco dos elefantes, e o enterram. Eles são os fazendeiros do Delta, assim como os cupins que cavam a terra, até chegarem ao espelho d’água. Eles conseguem chegar a uma profundidade de 50 metros. Seus montes são vistos em toda parte.
Aprendi também que as árvores se comunicam, e têm um mecanismo de proteção. Quando uma área está muito verde, isso atrai muitos animais, acabando com sua folhagens. Elas emitem então uma química de alerta, que é levada para outras árvores ao redor daquela área, reduzindo assim o fluxo de água, a fim de deixar as folhas mais amarelas.
Há uma outra planta que exala um cheiro maravilhoso, principalmente depois da chuva. Por vezes, os leões rolam nessa planta para se perfumar, assim disfarçando o seu cheiro, de forma a conseguir chegar mais perto das presas.
O continente africano me fascina. Na cultura, as crianças continuam sendo crianças. Elas inventam brincadeiras, e não estão viciadas em celulares.
A vida é bem mais simples, as pessoas são muito mais sociais. Aqui eu vejo o quanto a tecnologia afasta o ser humano da sua verdadeira essência.
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