DIRCÉA MOUNTFORT: Amor Pela Natureza
A poética de Dircéa Mountfort tem como assunto central alguns temas que são tratados ao longo deste
livro, como paisagens, flores, frutos, fungos (líquens), troncos, construções e a interferência humana que
destrói a natureza sem piedade, seja por meio de desmatamentos ou queimadas.
Todos esses temas surgem dentro de uma concepção artística caracterizada por trabalhos que possuem
unidade pela sua pesquisa aprimorada no sentido de haver identidade estilística da artista e riqueza na
diversidade de recursos técnicos apresentados em termos da construção plástica.
A proposta maior é a construção de uma sociedade melhor e mais justa em todos os sentidos. Nesse
aspecto, a valorização da natureza constitui a melhor maneira de ressaltar a dignidade humana, já que
cuidar de nossa mãe primordial é uma maneira de se sentir integrado a ela nos mais variados aspectos.
O trabalho pictórico de Dircéa Mountfort, portanto, valoriza a existência. Suas obras mergulham naquilo
que chamamos de realidade, não sendo uma mera cópia, mas a apresentação de uma pesquisa de detalhes que tornam o seu trabalho uma aprimorada jornada. O denso conhecimento das temáticas escolhidas atinge as essências.
Para pintar a natureza, existe um cuidadoso estudo não apenas do que está no entorno, mas, principalmente,
da própria técnica utilizada. Trata-se de um processo que se origina no estudo cuidadoso das partes das imagens para desmontá-las mentalmente e reorganizá-las da maneira que acha melhor e com a acurada técnica de que dispõe.
O mecanismo é o de continuamente captar o universal no particular. Ao examinar um ambiente,
a artista, com seu olhar, verifica o que há nele que o identifica a outras paisagens semelhantes. Ao
conseguir, encontra a essência dele, aquilo que não está apenas em uma imagem, mas em todas.
As obras de Dircéa Mountfort, nos seus variados assuntos, fazem exatamente isso. Ao ver cada um
de seus trabalhos, portanto, observamos, ao mesmo tempo, aspectos individuais e universais da natureza,
seja em seu esplendor ou nas cenas de destruição.
As representações tratam assim do vigor essencial da natureza. A vegetação e a flora são interpretadas no sentido
de trazer um sutil e contundente questionamento das maneiras como o ser humano trata o ambiente. Dessa forma, o observador é levado a refletir sobre o significado da vida, algo que ultrapassa simplismos e estimula a ver de incontáveis maneiras o que está ao nosso redor.
A arte de Dircéa Mountfort, portanto, ao ser vista neste livro, surge como uma expressão completa e
complexa da humanidade. Lida com a inteligência, a afetividade, a razão e o sentimento em cargas
equânimes. As mesclas entre essas categorias permitem entender melhor a complexidade da natureza e, por extensão, do ser humano que a maltrata.
Oscar D’Ambrosio:
Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA – Seção Brasil)
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AMOR PELA NATUREZA
Algumas técnicas exigem do artista uma devoção especial. Sem demérito de outras, a aquarela tem, na
magia do ato de controlar o elemento aquoso, o seu maior mérito, pois os grandes criadores no gênero são
aqueles que sabem encontrar o ponto médio entre o domínio do ofício e o poder do acaso.
Dircéa Mountfort mergulhou na aquarela atraída pelo desafio de controlar o fluxo vital que a aquarela porta.
Em cada trabalho, principalmente quando se debruça sobre um de seus assuntos preferidos, a Mata Atlântica,
oferece a sua resposta plástica para as interrogações que a mescla entre o pigmento e a água traz.
Seja no ato de retratar os sulcos de uma árvore ou nas composições mais realistas de um pequeno ecossistema ela realiza muito mais que um trabalho de estímulo à preservação da natureza. Conquista os olhos do observador por criar atmosferas de encantamento e transparências de justaposição de planos e profundidades.
Ao pintar fragmentos de uma floresta em extinção, não tem o olhar de um naturalista preocupado com a exata identificação da espécie. Sua aproximação com o meio ambiente é, acima de tudo, oriunda de uma paixão pelas possibilidades de representação que a técnica da aquarela permite.
Dircéa tem a devoção pela técnica, casada à delicadeza. Soma a isso a consciência ecológica e social de que cada ser humano só existe em função do meio ambiente e das outras pessoas. Daí surge um trabalho maduro por não se entender isolado da realidade, mas em harmonia com o mundo.
Oscar D’Ambrosio
Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais,
jornalista e crítico de arte, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA – Seção Brasil)
Fonte: Amor pela Natureza
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